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De acordo com a Liga Portuguesa contra o Cancro, em Portugal, cerca de 1% dos casos de cancro da mama surgem nos homens.

 

Agostinho Branco, 73 anos

"Estava deitado na cama. Descansado. Senti uma comichão no mamilo esquerdo e, ao coçar, percebi que estava ali um alto do tamanho de um pequeno feijão. Passei os dedos pelo mamilo direito e verifiquei que não tinha nada. Fiquei alarmado! Queria despachar os exames e ficar aliviado. Realizei a eco mamária sem problema. O pior foi a mamografia. É um exame doloroso. Se as mulheres, que têm mama, sentem desconforto, pior para nós, homens... que não temos nada. O médico que me fez a mamografia falou da necessidade de uma biopsia. E aí intuí mesmo que alguma coisa estava mal. Três dias depois, recebi um telefonema. Não estava à espera que me contactassem tão cedo. Pensei logo que o médico tinha pedido os exames com carácter de urgência. Fiquei muito preocupado.

A minha mulher foi levantar os exames e ligou-me. Chorava. Fiquei a saber que tinha cancro da mama e que iniciaria, o quanto antes, os tratamentos no IPO do Porto. Naquele momento, senti-me a morrer. Este foi o pior dia da minha vida. Dizem que os homens não choram. É mentira! Eu chorei. Muito. À noite, foi pior. Tive pesadelos com a doença. Acordava a pensar que estava bem, mas quando caía na realidade, entrava em depressão e chorava de novo.

Cancro para mim era o mesmo que morte. Mas mentalizei-me de que esta guerra era minha e que tinha de ir à luta. Não foi fácil. Pensava nisso todos os dias: teria eu de ser sujeito a uma mastectomia? Iria eu ficar mutilado? A resposta acabou por chegar e fui submetido a uma mastectomia radical e a um esvaziamento axilar. Correu tudo bem. A recuperação superou as expectativas. Iniciei a minha higiene pessoal sem precisar de apoio. Aguardei 20 dias até saber o tipo de tratamentos a que seria submetido. Primeiro, quatro sessões de quimioterapia; depois, 25 de radioterapia.

Reformei-me e, um ano após a cirurgia, ingressei na Liga Portuguesa Contra o Cancro, no Movimento Vencer e Viver, como voluntário. Trata-se de um movimento de apoio a homens e a mulheres com cancro da mama. Apoia doentes e familiares. Se antes tinha medo de entrar no IPO, agora vou lá com muito prazer para ajudar quem precisa. Falo com os doentes e com os familiares. Dou-lhes conforto. Tenho aprendido muito. Percebi que os homens são mais fechados do que as mulheres, principalmente no que toca ao cancro da mama.

Há um caso que recordo muito bem, porque me marcou muito. Uma enfermeira pediu-me para dar uma palavra a um homem que se encontrava no IPO com a filha. Era um paciente muito fechado. Só a filha é que sabia que ele tinha cancro da mama porque foi ela que o obrigou a ir à consulta. Nem a mulher sabia o que se passava. Dirigi-me a ele e o que vi foi um animal ferido e assustado dentro de uma jaula. Não me importei. O tempo já me tinha ensinado a quebrar alguns muros. Acabei por estar com aquele homem durante uma hora. A conversar. A filha estava estupefacta. São estes casos que me dão um enorme prazer. Eu dou muito de mim, mas recebo muito mais...

A doença, o cancro da mama, acabou por me ajudar a descobrir uma vocação."

 ester

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